terça-feira, 19 de março de 2013

A luz


"Há muito tempo, ou talvez há não tanto tempo assim, havia uma tribo numa caverna escura e fria. Os habitantes da caverna se juntavam e se queixavam do frio. Era tudo o que eles faziam. Era tudo o que eles sabiam fazer. Os sons da caverna eram soturnos, mas as pessoas não sabiam disso, pois não conheciam a alegria. O espírito da caverna era a morte, mas as pessoas não sabiam disso, pois não conheciam a vida. Então, certo dia, eles ouviram uma voz diferente.
- Ouvi suas reclamações - anunciou a voz. - Senti o frio e vi a escuridão em que se encontram. Vim para ajudar.
Os habitantes da caverna ficaram quietos. Nunca ouviram aquela voz antes. Esperança era algo que soava estranho aos seus ouvidos.
- Como podemos saber que você veio para ajudar?
- Confiem em mim - ele respondeu. - Tenho o que vocês precisam.
O povo da caverna olhou através da escuridão para a silhueta do estranho. Ele estava empilhando alguma coisa, depois de inclinava e então empilhava mais.
- O que está fazendo? - perguntou um deles, nervoso.
O estranho não respondeu.
- O que você está construindo - gritou outro, ainda mais alto.
Nenhuma resposta.
- Diga-nos! - exigiu outro.
O visitante se levantou e falou na direção das vozes.
- Eu tenho o que vocês precisam.
Ao dizer isso, virou-se para a pilha aos seus pés e colocou fogo nela. A madeira se incendiou, as chamas surgiram e a luz encheu a caverna.
O povo da caverna se afastou com medo.
- Apague isso! - gritaram eles. - Olhar para isso nos machuca.
- A luz sempre machuca antes de ajudar - respondeu ele.
- Cheguem mais perto. A dor vai logo passar.
- Eu não vou - declarou uma voz.
- Nem eu - disse uma segunda.
- Só um tolo se arriscaria a expor os olhos a essa luz.
- Vocês preferem as trevas? Preferem ficar no frio? Não levem em conta os seus medos. Deem um passo de fé.
Durante um longo tempo, ninguém falou. As pessoas ficaram em grupos, cobrindo os olhos. Aquele que fez o fogo permaneceu próximo a ele.
- Está quente aqui - convidou ele.
- Ele está certo - alguém lá de trás anunciou. - Está mais quente.
O estranho se virou e viu um vulto se aproximando lentamente do fogo.
- Já consigo abrir meus olhos agora - disse ela. - Eu posso ver.
- Chegue mais perto - convidou o criador do fogo. Ela se aproximou. Aproximou-se do anel de fogo.
- É tão quente!
Ela estendeu as mãos e suspirou enquanto o frio que sentia começava a passar.
- Venham todos! Sintam o calor - ela convidou.
- Silêncio mulher! - gritou um dos habitantes da caverna. - Deixe-nos e leve sua luz com você.
Ela se voltou para o estranho e perguntou:
- Por que eles não vêm?
- Eles escolheram o frio, pois, ainda que seja frio, é o que eles conhecem. Eles preferem ficar no frio a mudar.
- E viver nas trevas?
- E viver nas trevas.
A mulher, agora aquecida, permaneceu em silêncio, olhando primeiro para a escuridão e depois para o homem.
- Você vai abandonar o fogo? - perguntou ele.
Ela fez uma pausa e então respondeu:
- Não posso. Não suporto o frio.
Então falou outra vez:
- Mas também não consigo suportar a ideia de ver meu povo na escuridão.
- Não precisa ser assim - respondeu ele, aproximando-se do fogo e retirando uma vareta.
- Leve isso ao seu povo. Diga às pessoas que a luz está aqui, e que a luz é quente. Diga-lhes que a luz é para todo aquele que a deseja.
E, assim ela levou a pequena chama e caminhou na direção das sombras."

Pesquisa